
Capitolina Revista
Em outras palavras / In other words
Manuel Barrós traduz Adriane Garcia

La última piedra.
Diez poemas de Adriane Garcia
Selección y traducción de Manuel Barrós
A última pedra vem sempre com dois sons:
Um derradeiro gemido humano
E a eterna gargalhada de Deus.
Adriane Garcia. O nome do mundo (2014)
A TEIA
Presa
A aranha
Tece.
LA TELA
Presa
La araña
Teje.
INCÊNDIO
Palha
Sarça
A corça correndo na mata
Fôlego
Fumaça
A paisagem é soluço
E engasga.
INCENDIO
Paja
Zarza
La corza corriendo en la floresta
Aliento
Humo
El paisaje es sollozo
Y sofoca.

ESCULTURAS VIVAS
Repare nas mães
Tendo ao colo filhos dormindo:
Pietás de carne e osso
Carregando destinos.
ESCULTURAS VIVAS
Observa a las madres
Que tienen en el regazo hijos durmiendo:
Pietás de carne y hueso
Que cargan destinos.
SALTAR
Dor lancinante:
O asfalto rachado
Cria abismo.
SALTAR
Dolor lancinante:
El asfalto agrietado
Crea abismos.

DE MEU ÂNGULO
Estou de cabeça para baixo
Todos estão, mas só eu percebo
O céu embaixo de minha cabeça
Se olho para cima só vejo Terra
E acima de mim é pura superfície
O difícil é essa posição incômoda
O mar não é profundo
Profundo é o abismo azul
Ou negro de longínquas estrelas
E o homem acha que ascende
Quando de fato submerge
No seu equívoco celeste.
DESDE MI ÁNGULO
Estoy parada de cabeza
Todos lo están, pero solo yo advierto
El cielo debajo de mi cabeza
Si miro hacia arriba solo veo la Tierra
Y encima de mí hay pura superfície
Lo difícil es esa posición incómoda
El mar no es profundo
Profundo es el abismo azul
O negro de remotas estrellas
Y el hombre cree que asciende
Cuando de hecho se sumerge
En su equívoco celeste.
NOSTALGIA
Quem nos dera
Voltar ao escuro,
Ao ciciar dos grilos,
Ao coaxar dos sapos.
Nós, as estrelas
E a fogueira para espantar mosquito.
Mergulhar na noite,
Esclarecer este breu adormecido,
No mais profundo das águas,
Feito feto
Nascer de novo.
NOSTALGIA
Quién nos había dado
Volver a lo oscuro,
Al murmurar de los grillos,
Al croar de los sapos.
Nosotros, las estrellas
Y la hoguera para ahuyentar a los mosquitos.
Sumergirse en la noche,
Esclarecer esta brea adormecida,
En lo más profundo de las aguas,
Hecho feto
Volver a nacer.

RESPOSTA
Para cada ação
Uma contração.
RESPUESTA
Para cada acción
Una contracción.
SOLIDÃO
Só
O homem
Procura
O outro
Homem
Só.
SOLEDAD
Solo
El hombre
Busca
A otro
Hombre
Solo.
O TEMPO ENTRE OS “STACCATOS”
No barulho do relógio
Na língua atrás dos dentes
No ar do diafragma
Na agonia cardíaca
Que rege com a batida:
O silêncio.
EL TIEMPO ENTRE LOS “STACCATOS”
En el ruido del reloj
En la lengua detrás de los dientes
En el aire del diafragma
En la agonía cardiaca
Que rige con el latido:
El silencio.
VÁLVULA DE EMERGÊNCIA
Em caso de emergência
A válvula
A úvula
A vulva
Sem luva.
VÁLVULA DE EMERGENCIA
En caso de emergencia
La válvula
La úvula
La vulva
Sin guantes.

Adriane Garcia (1973), poeta, nascida e residente em Belo Horizonte. Publicou Fábulas para adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013), O nome do mundo (Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (Confraria do Vento, 2015), Embrulhado para viagem (Col. Leve um Livro, 2016), Garrafas ao mar (Penalux, 2018) e Arraial do Curral del Rei – a desmemória dos bois (Conceito Editorial, 2019).
Manuel Barrós: Lima, 1993. Sociólogo, investigador y traductor. Ha publicado la traducción Doze noturnos da Holanda / Doce nocturnos de Holanda (Ediciones Andesgraund, 2016; 2018), de Cecília Meireles, además de versiones de distintos escritores y poetas en revistas.