
Capitolina Revista
A flor e o seu protesto
Updated: May 27, 2020
Adriana Lisboa

tanto já se falou da flor e o seu protesto
aquela que rompe o asfalto
a que entope os canos dos fuzis
feia ou cravo
ou o cocar do amaranto
(semente-bomba sobre os campos
da Monsanto)
tanto já se usou a flor
em rima pobre em rima rica
ou de classe média
canções e coroas fúnebres
e nos altares às dúzias
e nos falsos pedidos de desculpas
mas o que diz a flor
quando não a tomamos emprestada
para lutas lutos amores
ou metáforas
o que será uma flor
sem significante
nem significado?

Adriana Lisboa nasceu no Rio de Janeiro. Publicou, entre outros livros, os romances Sinfonia em branco (Prêmio José Saramago), Azul corvo (um dos livros do ano do jornal inglês the Independent), Hanói, Todos os santos e os poemas de Parte da paisagem, Pequena música (menção honrosa – Prêmio Casa de las Américas), Deriva. Seus livros foram traduzidos em mais de vinte países. Seus poemas e contos saíram em revistas como Modern Poetry in Translation e Granta.